13 de novembro de 2006

O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias – Cao Hambúrguer


Sempre que assisto a um filme que envolve crianças, e principalmente se o filme for bom, acabo sempre fazendo algum tipo de associação com o meu passado de menino, relembrando alguma coisa que ficou para trás, e que foi marcante para o meu crescimento. Não foi diferente desta vez; assim como Mauro (Michael Joelsas), protagonista do filme, também fui um apaixonado por futebol e principalmente futebol de botão. Chegava a organizar campeonatos com os colegas de escola. Mas o que me veio à mente com força, assistindo ao filme, foi um episódio envolvendo eu e meu padrasto, quando eu devia ter a mesma idade de Mauro.

Num domingo remoto, logo após o almoço, meu padrasto me passou uns exercícios para fazer, pois tinha acabado de ir muito mal em uma prova de gramática. A questão era de análise sintética, eu detestava e não queria perder meu domingo com aquela droga. Gritei, berrei, xinguei e disse ao meu padrasto que ele não tinha o direito de me obrigar a fazer aquilo, pois não era meu pai de verdade. Ele nada me disse, apenas entregou os exercícios e com o semblante triste, foi para o quarto tirar seu cochilo dominical pós-almoço. No meu quarto, ainda revoltado, li o exercício, a frase que era para eu fazer a análise sintática era a seguinte: “Quem se atreve a praticar o bem e a caridade, deve ter coragem de enfrentar a ingratidão”. Putz, caiu meu mundo, uma dor forte no peito apertado, e um choro convulsivo de mais de duas horas abafado no travesseiro. Este foi o resultado, pois com a sutileza de meu pai, aquilo foi muito pior que uma surra. Seu olhar, seu silencio cheio de amor e mágoa, ficaram guardados na minha mente.A associação que faço deste filme com minha infãncia, se deve pela sutileza com que pontos centrais e sentimentais são tocados na alma de um menino.

Cao Hambúrguer dá um show na reconstituição do ano de 1970 no bairro de Bom Retiro. Futebol e Repressão foram os dois pilares daquele ano no Brasil, e é principalmente retratado pela vida de Mauro. Seu afastamento dos pais devido a repressão, seu sonho de se tornar goleiro, sendo esta opção a mais solitária dentro do futebol coletivo. Sua solidão no apartamento do avô já morto. A ajuda resignada de outros judeus, que o “adotam” de uma certa forma. Estes também tinham acabado de fugir de uma repressão terrível na segunda guerra. Sabiam o que era estar só, mesmo menino, e que mesmo assim a vida tinha que continuar, mesmo sem os familiares.

Vários pontos são abordados neste belo filme, que mesmo sendo popular, não se deixa levar pela onda de telefilmes medíocres que assolam os cinemas ultimamente. Um dos mais belos filmes do ano. O cinema nacional finalmente respira graças a este filme. Salve!

5 comentários:

  1. Oi td bem?
    Teu blog eh muito bom, estou moh afim de ver este filme...só que estou um pouco sem tempo de ir no cinema...mas quando for pro cinema quero ver mesmo o filme "a pequena miss Sunshine...hehehe...muito bacana o teu blog...se quiser da um passasadinha la no meu blog tb...abs e ateh mais

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  2. vALEU A VISITA fELIPE. vOU DAR UMA CONFERIDA NO SEU BLOG, SIM.

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  3. Eu também gostei bastante do filme. Ele cresce aos poucos e valoriza, em especial, os coadjuvantes. Não é apenas a história de um menino que decidiu ser goleiro...

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  4. É lindo mesmo, Rodrigo. Foi uma grata surpresa do ano, para mim, que estava meio chateado com os filmes brasileiros do ano, com honrosas excessões como Crime Delicado.

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  5. Obrigado por Blog intiresny

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