18 de março de 2006

O filme de 2005: Um Filme Falado


Pronto, me rendi a Manoel de Oliveira, eu que um dia tive a imbecilidade de chamá-lo de chato.

Parei e pirei com esse alento sobre a civilização humana, que nos leva em viagem, literalmente, de volta às antigas arquiteturas através do mundo.

Vemos e nos deliciamos com locais que outrora foram de glórias. Vemos também ruínas. Este passeio pelas antiguidades é feito na primeira metade do filme por uma mãe (Leonor Silveira) , professora de história, e sua pequenina filha, em uma viagem de navio pelo Mediterrâneo. Não por acaso, as duas são portuguesas, lembrando-nos de imediato sobre as grandes navegações, período em que Portugal era o maior, e o mais rico pais do mundo, tendo papel decisivo na historia, em um dos grandes feitos da humanidade, que foi a descobrimento dos Mares e conseqüentemente terras.

Dentro do navio temos o encontro entre as outras grandes civilizações,- deleite para quem gosta de história- afinal, cada uma à seu tempo, ajudou de forma decisiva a construir o mundo. Os gregos (a filosofia e as artes em geral) Irene Papas; os franceses por Catherine Deneuve (Revolução Francesa); Stefania Sandrelli (Império Romano) e John Malkovich, que personifica o domínio americano atual e, não por acaso, é o comandante do navio.

Este encontro é personificado por um jantar entre eles. Todos (portugueses, franceses, italianos, gregos e americanos) falam seus idiomas e todos se entendem perfeitamente, numa alusão clara ao entendimento que deveríamos ter. O entendimento é feito como uma espécie de ode ao homem, suas lutas, guerra e conquistas. Uma celebração à humanidade, e de fato sentimos isso vendo o filme, numa cena belíssima, como em todas dessa obra-prima.

Especialmente a cena em que o comandante entrega um presente à filha de Leonor Silveira no convés do navio me fez chorar e rir ao mesmo tempo dentro do cinema, me levando a uma espécie de transe ou torpor difícil de descrever, tamanha beleza que senti naquele momento mágico.

Um filme atípico, que nos mostra toda a beleza, que através de lutas, conquistas e guerras, o homem foi adquirindo com o passar dos tempos.

Que podemos sim, ser civilizados e nos confraternizarmos através de nossa evolução...Até que acontece o imprevisível, num final totalmente inesperado, mas que é extremamente plausível e realista com os dias de hoje, até parece que outro filme entrou ali, nos pegando desavisado. Saímos desconcertados e em estado de êxtase do cinema, com as pernas bambas.
Uma Obra-Prima Total! Uma homenagem deste gênio português ao cinema e à civilização.

Um comentário:

  1. espero que nunca mais tenha tal imbecilidade. onde já se viu, chamar o manoel de chato...

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