31 de julho de 2011

Filhos de João, Admirável Mundo Novo Baiano – Henrique Dantas


“Eu sou, eu sou. Eu sou amor da cabeça aos pés”.

A primeira vista, este é mais um documentário musical, como tantos, e por si só, já vale por fazer justiça a uma das maiores bandas – junto com Os Mutantes, para mim – do Brasil, deleite para velhos fãs como eu, veiculo mais que necessário para que a nova geração conheça estes velhos Novos Baianos. Mas é mais que isso, pois foge do lugar comum, mostrando com sucesso, o que outro baiano fez ao som deles, através de uma única visita. “Mais um, mais um Bahia, mais um, mais um buchixa”.

Eis que numa madrugada surge no apartamento deles um “deus musical” para dividir o que estava “explodindo dentro dele”. Palavras de Tom Zé, que apesar de precisarmos por vezes apertar a tecla SAP para entendê-lo, sintetizou bem o que João Gilberto, com sua visita, fez na vida daquele bando de malucos, loucos de todo tipo de alucinógenos possíveis da época. Dadi afirma que quando olhou pelo olho mágico e viu um senhor de terno alinhado às três da manhã, pensou até que fosse a policia. Filho de Juazeiro assim como Galvão, o mestre da Bossa Nova chegou e hipnotizou todo mundo com sua voz baixa e macia, juntamente com seus acordes: “É só isso meu baião, é não tem mais nada não”. Moraes Moreira entrou em transe, ficou uma semana sem tocar e quase desiste de ser músico. Mas João Gilberto, com seu ouvido apurado, percebeu que em meio a toda aquela loucura hippie, havia músicos de qualidade, logo eles que se achavam melhores jogadores de futebol do que músicos. O mestre chamou o menino Pepeu Gomes de lado e falou para ele tocar cavaquinho e – por que não? – e para Paulinho Boca tocar um pandeiro e um tamborim. Perguntou se conheciam Assis Valente e outros sambistas das antigas. Como assim? Quem era o maluco ali mesmo? Pepeu, discípulo de Hendrix, tocando cavaquinho? Assis Valente? Quem? O mundo musical deles jamais seria o mesmo. Tudo se expandiu, explodiu, cresceu. Se junta a isso, as longas conversas via telefone de Galvão (letrista da banda) com João a respeito de abelhas, choros de Bebel, zum-zuns e mel. Pronto. Pouco tempo depois é lançado “Acabou Chorare”, considerado em qualquer lista de críticos, ou amantes da boa musica nacional, como um dos cinco maiores discos brasileiro de todos os tempos. Quem não conhece “Brasil Pandeiro” do tal de Assis Valente na versão dos Novos Baianos? A partir de então, inaugurou-se a fusão de samba, baião e rock com total harmonia, e uma nova história começou a ser escrita e tocada.

“Por isso ando e penso com mais de um /por isso ninguém vê minha sacola”. O sucesso era imenso e o apartamento pequeno para aquele bando. Foram para um sítio, onde jogavam bola pelas manhãs, e tocavam à tarde. Com a extensão de Baby e Pepeu fazerem uma penca de filhos com nomes esquisitos. Parece que a tal da “Sociedade Alternativa” que outro baiano fã de Elvis proclamava, foi fundada por eles. O dinheiro ficava guardado numa sacola, onde cada um pegava o que era necessário. Sem donos, sem poderes, totalmente desapegados ao ganho financeiro. Harmonia que chegou há durar alguns anos, já que a única preocupação deles era ter dinheiro para uniformes, chuteiras e imensas quantidades de fumo. Não por acaso, a outra obra-prima deles se chama “Novos Baianos Futebol Clube”.

O depoimento de todos é importante e contundente, não há barrigas, como quando Moraes Moreira fala sobre sua saída do grupo, que culminou com o declínio da banda. Alma musical do grupo. Seria como Os Mutantes sem o Arnaldo; os Stones sem o Richards; The Beatles sem Paul. Eles continuaram durante um tempo, mas... Galvão é o mais engraçado, já que parece que ele é o único que continua na mesma época, no mesmo sítio, ou estava tendo uma volta “flash ácido”, tamanha calma baiana, falando sobre as abelhinhas, os bem-te-vis, no meio do depoimento, uma figura.

“... É sofrer e chorar como Maria, sorrir e cantar como Bahia... Mãe pode ser e ter bebê, e até pode ser Baby também”. Ausência sentida nos depoimentos é o de Baby Consuelo. Ops! Agora é Baby do Brasil, que não autorizou que suas declarações (que ela chegou a fazer) entrassem no filme por questões financeiras. Vai ver seu pastor, convenceu que era necessário pedir grana (olha o dizimo) para homenagea-la e ficou assim, já que numa recente entrevista que eu assisti dela, cada frase proferida vinha um monte de “Aleluia” junto, então melhor assim. Ficou melhor mostrá-la como Baby Consuelo novinha. Cantando, dançando e revirando os olhinhos. Uma imagem que vale por mil palavras.

“A vizinha tem vidraça, tem sim, senhor”. A bola, a vidraça, o sítio ficaram lá atrás. Sobrou a música eterna, as lembranças boas e a certeza de que tudo valeu a pena, como diz Pepeu em certo momento do filme.

“Água mole em pedra dura. Pedra, pedra até que Pedro”. Besta é tu, Maria, Besta é tu, meu guri, meu gurizinho. Besta é tu, preta, pretinha. Besta é tu Ò Pai, Ò Mãe. Que não vai logo escutar estes loucos lindos geniais baianos, que foram muito além do tempo deles na música.

“Só se não for brasileiro nesta hora, só se não for brasileiro nesta hora”.

19 de julho de 2011

Houve Uma Vez Dois Verões – Jorge Furtado


Sabe aquele filme que você assiste diversas vezes, e se por acaso ele esta passando em algum canal e te pega, lá vai você assistir novamente e quando termina você faz: Ah! Que pena que acabou! Pois é, este filme é um desses, que ontem me pegou novamente no Canal Brasil. E de novo... Adorei!

Primeiro longa-metragem de Jorge Furtado, que veio logo após o fantástico curta-metragem “Ilha das Flores”, também pode ser seu (por enquanto) melhor filme, apesar de que eu também ache todos os outros quatro filmes dele – “Saneamento Básico”, “Meu Tio Matou Um Cara” e “O Homem Que Copiava” - sensacionais. Alias, revendo este filme, pude perceber porque ando tão desanimado com o cinema nacional ultimamente. O que acontece é que todos os cineastas que aprendi a gostar e admirar parecem estar naquele período de entre safra, já faz um tempo que não produzem algo inédito. Como exemplo, o próprio Furtado, Beto Brant, Carlão, Karim Ainouz, Salles, Ugo Giorgetti, e outros que não lembro agora. Uns com um tempo a mais (Giorgetti), outros que estão no começo (Ainouz), mas com uma obra mais que respeitável. Pois, sem o carimbo da imperiosa Globo Filmes, e sem a mediocridade que ciladas e vira-latas podem proporcionar a novos espectadores do novo cinema nacional, estes são os caras que ainda conseguem produzir filmes bons sem a necessidade de vender à alma ao plin-plin.

Já que não há nada de bom e novo, vale ver ou rever filmes não inéditos, como este que trata do universo de adolescentes, sem tratá-los como imbecis, como a maioria dos filmes americanos destinados a esta faixa etária. É realmente uma pena que o filme não tenha obtido o sucesso de público que merecia e deveria ter. Os diretores americanos poderiam aprender com o Furtado a tratar o jovem com o respeito que merece. Lembro que na época em que o filme foi lançado, Furtado declarou que se inspirou nos filhos para escrever o roteiro. Bela homenagem de um pai, para seus filhos, que alias aparecem no filme, seja sua filha, em uma “ponta”, ou mesmo seu filho (Pedro Furtado) que co-protagoniza o filme fazendo o papel de Juca, junto com André Arteche que vive o Chico.

De cara, o que me agrada no filme é saber que existe uma praia (peço desculpas aos gaúchos pela ignorância) que é a maior – fato - e pior do Brasil, segundo os personagens. Nesta praia é que todo o verão, os garotos Chico e Juca vão passar as férias escolares. Com a chegada da adolescência e os hormônios à milhão, tudo que eles querem é perder a virgindade e farão de tudo para conseguir seu intento. Quem acaba conseguindo primeiro é o Chico, que conhece a Roza com z (Ana Maria Mainieri) e passa uma noite dos sonhos com ela. Só que ela desaparece, e ele apaixonado, saí à procura dela pela imensidão da praia, sem encontrá-la. Na verdade, ela que o procura depois das férias, com a surpresa para ele de que está grávida. Mas será que está mesmo? Como assim? A foto acima da uma bela dimensão da situação de Chico "pato" e Roza.Como diria André no filme seguinte de Furtado: “As gurias são muito espertas”. E é isso que Chico descobre no verão seguinte, na mesma praia, quando encontra novamente Roza, para viverem outras descobertas, outras mentiras verdadeiras e outras verdades mentirosas. Enquanto isso, Juca, continua em sua luta árdua pelo fim da virgindade, sendo por vezes, e vezes, enganado por outras gurias espertas. Tudo isso embalado por uma trilha sonora fantástica, que espertamente é usada pelo diretor para acentuar várias cenas marcantes. E de quebra, mostrar ao resto do país, belas músicas de caras como Frank Jorge, ou mesmo uma versão matadora de “Nasci Para Chorar” com a inesquecível Cassia Eller, de encomenda para o filme. Pequena e admirável obra-prima.

Um filmaço, apesar de simples e curto. Que mesmo falando sobre o universo dos jovens de quinze ou dezesseis anos, fala ao coração de todos aqueles que não envelhecem na alma. Que como eu, continuam um menino ou menina, prontos para as surpresas apaixonantes da vida. Que como eu, adoram rock e música de boa qualidade, e que como eu que, por vezes ingênuo, na maioria das vezes, não sabe lidar com as gurias mais que espertas, mas as ama demais e clama pelo próximo beijo na boca, como se fosse o primeiro.



12 de julho de 2011

Control – Anton Corbijn



Aconteceu na semana passada; dia mais frio do ano em Sampa, depois da terceira tentativa frustrada de assistir algum filme da mostra do Hitchcock (sempre lotada) e sem qualquer alternativa nos outros cinemas, me vejo adentrando no Cine Olido para assistir a este filme-biografia, que deixei escapar quando passou por aqui. Com ingressos a um Real, vejo algumas pessoas entrarem no cinema (me parece) mais para se protegerem do frio, ou mesmo para uma soneca, fato que se comprova, devido à sinfonia de roncos, assim que o filme começa. Mas nada que de fato atrapalhe a minha imersão numa Manchester fria, feia e sombria, que o preto e branco da película só faz acentuar.

São as cores de Ian Curtis, líder do Joy Division, banda do pós-punk inglês, cultuada até hoje, graças ao talento e carisma de seu líder, mas foi uma banda de vida curta, assim como ele, que se enforcou aos vinte e três anos. Em meio às tempestades constantes, precoce nos sentimentos, na dor e no casamento; em duas horas de filme, vemos a meteórica estrela de Ian Curtis brilhar e se apagar.

Não sou conhecedor da obra de Curtis, algumas vezes ouvi – assim como qualquer um que gosta de boa música e é curioso – seu disco mais famoso “Closer”, que sempre me passou uma sensação de angústia muito forte. Que habilmente é radiografado neste filme. Certamente, Ian Curtis não era adepto de uma vida a lá “comercial de margarina”, muito longe disso. Sua alma sangrava em dor e isso ficava claro em suas canções, em sua dança nervosa, alias, desconfio que em suas danças que Renato Russo se inspirou. Mesmo que não tivesse se matado, talvez não tivesse continuado na música. O sucesso, a fama, não lhe fazia a cabeça, ao contrário, lhe causavam ainda mais dor. Em uma das cenas, ele diz que não pode mais continuar, pois ninguém entendia a dor e o desgaste que lhe ia à alma, cada vez que subia ao palco para uma apresentação. Enquanto todos dançavam e se divertiam ao som da banda, ele sangrava internamente em cada interpretação. Quanto maior o sucesso, maior era seu abismo. Sua música não era para agradar, na maioria das vezes era para incomodar, como revelou em uma das entrevistas.

Nem todo mundo nasceu para ser feliz. Há pessoas que carregam em si um lado sombrio e triste, que se sobrepõe às tardes festivas de verão. Ian Curtis viveu intensamente seu inverno d alma. A falta de grana, a depressão, a epilepsia e a não adequação ao mundo, lhe tiraram precocemente a força da vida. Tudo isso aliado, ao não entendimento ao sentimento de amor/desamor/dependência que nutria por sua esposa. Quando se apaixonou por uma repórter e se viu obrigado a escolher entre as duas, foi seu ponto final. Não entendia como era escolher entre seus sentimentos e o que achava certo e, ao mesmo tempo, ter que amar e viver conforme o que as pessoas esperavam dele. Tudo se transformou num fardo muito duro de carregar.

Ele foi mais um exemplo de talento inato para sua obra, em contra ponto à falta de talento para lidar com a vida, com o cotidiano, o banal. É preciso ter coragem para viver, ou melhor, sobreviver, mas –talvez- mais coragem ainda para se matar.

Uma biografia bela e triste, onde o diretor Anton Corbijn não usa seu filme para fazer julgamentos, apenas mostra – e muito bem – como foi a vida de um ídolo seu, através da interpretação “mediúnica” de Sam Riley. Um filme para se ver e rever, mesmo sabendo que não haverá controle e muito menos encontrará um pote de ouro, ou um arco-iris no final.

4 de julho de 2011

Potiche: Esposa Troféu – François Ozon



François Ozon filma muito, este é o terceiro filme assistido este ano deste mesmo cineasta, pois já passou nas telas o denso e pesado “O Refúgio” e em seguida o fantasioso “Ricky”. Talvez seja - ao lado de Wood Allen - o cineasta que mais produz. Mas ao contrário do mestre Allen, que traz na sua obra uma forte carga autoral, que faz nós pensarmos erroneamente que ele sempre faz o mesmo filme, apenas mudando uma coisinha aqui e outra lá. Ozon é camaleônico. Em cada filme atira para um lado diferente, passando do drama para a comédia tranquilamente (parece que está fazendo um suspense no momento), pois seu negócio é arriscar outra fórmula, tendo como cenário contínuo, seu país, a França, onde parece desfrutar de grandes incentivos – e sucesso - para seus projetos, quais sejam eles.

É preciso muita má vontade para não gostar deste filme. Se você for assisti-lo sem pretensões, certamente ira se divertir e se encantar com a riqueza de detalhes, entre cabelos, roupas, cenários e o colorido que remetem diretamente para os anos setenta, época em que se passa esta comédia.

Este filme conta a história de uma esposa modelo, rainha do forno e fogão, totalmente submissa ao marido, que devido à doença súbita do mesmo, se vê obrigada a administrar a fábrica de guarda-chuvas da família. Para surpresa de todos, não só ela obtém muito sucesso na nova aventura, como faz o negócio prosperar, trazendo mudanças não só para sua vida, mas para a de todos ao seu redor. Pois com estas mudanças, coisas do passado, de sua vida virão à tona. Amores do passado surgiram, ela mostrará que não era tão submissa como se supunha e as consequências serão inesperadas.

Poderia se dizer que Ozon quis discutir a reviravolta e o novo papel da mulher, que teve inicio no final dos anos sessenta e começo dos anos setenta, mas ele não se dispõe a entrar em nenhuma questão profundamente, não é este seu propósito. Ele quer apenas ter o prazer de trabalhar com Deneuve, e assim, deixar sua estrela principal brilhar.

Se Ozon passeia por diversos estilos, creio que ele usou este comédia como uma forma singela de homenagem a Catherine Deneuve. É um filme-homenagem. Ela é a razão de ser deste filme. Ele existe para ela e por ela. Nada mais justo. Afinal esta divina dama francesa do cinema, está linda e elegante nos autos dos seus setenta anos. Haveria outra estrela do cinema que envelheceu tão bem como ela? Basta comparar em algumas fotos atuais; Deneuve e Brigitte Bardot, por exemplo. Uma você tem vontade de beijar; a outra dá vontade de gritar de pavor. O enredo serve para as pequenas homenagens à estrela francesa, como o colorido do filme que nos remete à “Pele de Asno” ou a fabrica de guarda-chuvas que nos remete imediatamente ao delicioso “Os Guarda-Chuvas do Amor” ambos de Jacques Demy, onde Deneuve se mostrava no esplendor de sua juventude e beleza. Não bastasse, Ozon convoca Gerard Depardieu para um auxílio luxuoso, relembrando outro clássico (O Último Metrô) da Belle de Jour. Ela merece, pois talvez seja uma das únicas estrelas ainda na ativa, que realmente merece este título, que vem de outra época. A época de ouro do cinema francês e mundial, em que ela elegantemente sempre esteve e continua inserida. Linda e loira, conseguindo (ainda) mexer com o imaginário de seus velhos e novos fãs.

24 de junho de 2011

Namorados Para Sempre – Derek Cianfrance



 
“Sabe quando toca uma música e você precisa dançar”

Na cena mais bonita e singela deste filme, Dean (Ryan Gosling) toca uma canção para Cindy (Michelle Williams) no meio da rua, e ela toda desengonçada, tenta sapatear ao som enamorado de Dean. É bem o começo do amor entre eles e eu, na plateia, me enamoro do casal, torço por eles. É o inicio do amor, tudo é lindo, mesmo a música mal tocada, mesmo a dança mal feita. Está mesma canção – notem – é tocada nos créditos finais e daí parece ser outra canção, (assim como a outra música que toca no filme duas vezes), todo seu lamento fica explicito, pois os espinhos da rosa foram mais fortes e feriu fundo, o coração partido. Venceu o escuro. A sensação de amargor prevalece. Meu coração também fica partido, por eles, pois o amor virou dor.

Com um roteiro para lá de afiado (algo difícil nos tempos atuais) e dois atores em estado de graça – principalmente Gosling em sua melhor interpretação – é até injusto dizer qual a melhor cena. Em todas elas existem as entrelinhas, e o contexto de cada uma, pode ser interpretada de várias formas. Megan morreu, o copo transbordou, o amor morreu. Existem culpados? Nas idas e vindas do filme, entre o inicio e o fim (?) do romance, talvez se encontre a resposta.

Saiu do cinema meio atordoado. Como um vampiro, saiu satisfeito por finalmente, depois de muito tentar ultimamente, provar um sangue bom. Afinal, este ano esta difícil beber cinema. Geralmente, saiu do cinema e passa-se cinco minutos e nem lembro direito o que assisti.

Pouco ou nada sei do amor, mas da dor... Sou romântico - insisto em ser assim – e penso no filme após os letreiros finais, quando não assistimos mais, mas continua na nossa cabeça. Penso que na sua caminhada para o abismo escuro, meu amigo – sim, meu amigo – Dean vai ser chamado de volta por Candy, e eles irão se abraçar. Uma nova chance se fará, e tudo vai ficar bem, com promessas mútuas de melhoras... Mas não é assim, infelizmente.

Mas afinal, por que deu errado? Fácil seria condenar Candy. Em outra cena importante (qual não é?) ela expressa sua insatisfação no carro, a caminho do motel. Fala de uma pessoa que encontrou no caminho, mas na verdade, esta falando de Dean. Já no motel, enquanto “tentam” transar, se sente culpada por não querer mais seu casamento, e pede para ele bater nela, e ele (burro e amoroso) não segue os conselhos antigos -por não conhecer - de Nelson Rodrigues, e se recusa. Foi ali que definitivamente acabou. No dia seguinte, em outra discussão, ela diz ser “o homem da casa” e Dean se retrai mais ainda, apesar dela saber que o que ele fez por ela e pela filha, outros pouquíssimos fariam. Ele não queria uma família, mas a partir do momento que a tem, decide viver só para ela, só amar a família, só por ela se importar e se interioriza para a vida lá fora, praticamente se fechando para o mundo exterior, e perde as ambições, se é que por ventura, as teve anteriormente. Se ao mesmo tempo, essa dedicação à família é muito digna, diria até que seria o que muita mulher sonharia, para Candy vai se tornando insuficiente, e vai criando um abismo entre os dois, pois sabemos que ela tinha grandes ambições, é inteligente e frustrada por não ter conseguido ser médica como intencionava, e conseguiria se não tivesse a gravidez e consequentemente o casamento. Ela tem ambições na vida, ele não. Abismo.

O dilema de Candy, e o pedido dos tabefes, na cena do motel, se fazem quando ela vê que precisava de mais dele, da vida, enfim. Apesar de saber que ninguém daria tanto a ela como Dean lhe dá. Que é um amor infinito para ela e principalmente para Frankie, a filhinha. Mesmo insatisfeita, sabe que o que tem é algo raro. Mas Dean não é santo não, e esconde suas insatisfações (e ambições) nos muitos cigarros e no álcool matinal. A enfermaria de Candy, a nevoa da fumaça, o cheiro da bebida; ingredientes fortes para o fim do amor dos dois. Ambos, filhos de famílias disformes, problemáticas, se agarram um no outro, mas não é o suficiente.

Entendo Candy, mas, sobretudo entendo Dean, provavelmente agiria como ele na mesma situação. Na bebida e no cigarro, já o faço, modestamente.

Os fogos de artifício pululam na cena final e Dean caminha para o nada, para o abismo. E eu caminho em meio às luzes festivas da Avenida Paulista, no frio, sozinho.

13 de junho de 2011

Minhas Tardes com Margueritte - Jean Becker


Não sou de muita curiosidade para com a internet, vídeos e textos que são muito comentados eu passo batido. Mas sou um curioso nos ônibus e trens de metrô da cidade em que vivo. Sobre o que as pessoas lêem a bordo. Procuro nos acentos, assim que adentro uma pessoa que esteja com um livro na mão e me sento próximo a ela, a fim de descobrir o que esta pessoa esta lendo, ou mesmo ficar só do seu lado, com a satisfação de estar próximo a uma pessoa do mesmo “clube do livro”. Mesmo sem ela saber, e por vezes até, me achar estranho, enxerido, procuro saber o que esta sendo lido e ficar ao seu lado. Tenho vontade de dizer que estamos “irmanados” pelo gosto à leitura e fazemos parte de um seleto grupo super fantástico. Faço isso desde menino, quando o “bicho” da leitura me mordeu. Pois bem, o que deu para perceber, que na maioria das vezes, são livros espíritas ou de alto-ajuda. Mas isso não importa, pois assim como pizza e sexo, qualquer livro mesmo ruim é bom. Como declarou Tony Ramos numa recente e ótima matéria na revista Veja a cerca de um mês: “A leitura forma e informa o homem”.

Sendo assim, fui assistir a este filme com especial atenção, pronto para gostar, pois conta a história de um homem com dificuldades na leitura, que começa a se encontrar com uma senhorinha idosa e deste encontro inusitado, sempre as tardes num banco de praça, ela começa a ler seus livros para ele, que assim começa a descobrir o maravilhoso e rico mundo imaginário dos livros, com isso, tudo se modifica no seu modo de ver a vida, o mundo ao seu redor.

Mas, talvez por esperar tanto deste filme, achando encontrar a tal irmandade com o tema, acabei me decepcionando com o filme. Achei que foi conduzido de forma rasa, tanto na abordagem dos livros mostrados, como em todo o restante que cerca os personagens, muito simpáticos, diga-se de passagem. Até parece outra França, e não aquela na qual lemos e vemos a respeito nos jornais impressos e na TV, cada vez mais direitista e xenófoba. Neste filme, franceses e estrangeiros convivem harmoniosamente. Ok! Talvez a uns sessenta ou cinqüenta anos atrás, mas não nos tempos atuais. Enfim, um belo argumento e bons atores, que poderiam ser muito melhor explorados com um roteiro e direção melhor.

Logo após este filme, acabei entrando em outra sessão, com outro filme francês: “Como Agarrar um Coração”, que apesar do cenário belo, feito em varias cidades francesas, não passa de uma cópia mal feita daquelas comédias americanas, que a gente ousa perder tempo em DVD , talvez, num dia chuvoso, quando não tem coisa melhor para se assistir.

Li nos jornais, que estes dois filmes, foram os dois maiores sucessos do ano, nos cinemas franceses, batendo recorde de bilheteria. Terra da Nouvelle Vague, Rhomer, Truffaut, Godart Chabrol, Malle e outros. Bem mediano, o gosto desta nova geração francesa, hein?