24 de março de 2006

As Chaves de Casa – Gianni Amélio


Relutei muito em assistir esse filme, achava que iria ser um melodrama besta, usando o artifício da deficiência física para fazer chorar. Até que um amigo disse que eu estava enganado, e ele estava certo. Este filme é tocante. Lembra os grandes dramas italianos que há tempos não vejo.

Conta o encontro de um pai (Andréa Rossi) e um filho deficiente físico e mental (Kin Rossi Stuart). O garoto fora abandonado pelo pai assim que nasceu, sendo criado pelos tios maternos. Depois de quinze anos eles se encontram. O pai resolve acompanhar, por ordens médicas, o garoto numa viagem à Alemanha, para um tratamento que ele faz anualmente. Daí se desenvolve todo o enredo, desde o encontro dos dois até a aproximação difícil.

Chega um certo momento do filme, que comecei a me questionar sobre quem na realidade era o deficiente ali mostrado, o filho ou o pai? Pois, se um pedia cuidados físicos, o outro demonstra perceber sua deficiente moral para com o filho.Sua ausência incorrigível por todos aqueles anos.

Outra personagem importante aparece no filme, personificada por Charlote Ramphing, que faz o papel de mãe de uma deficiente, ela diz em um certo momento sobre a filha: “Por que ela não morre” . Isso é muito tocante, pois vemos o grande amor de mãe pela filha. Mas esse amor é carregado de mágoas.

Deve ser muito difícil passar por uma situação dessas, mesmo com muito amor. Pois apesar de nos acharmos bons e amáveis, carregamos, todos nós, um lado escuro no peito, e tem horas que esse lado aflora nos cobrando uma atitude egoísta, ou melhor, individualista. Acredito que quem mais sofre nestes casos, não é o deficiente e sim as pessoas que estão próximas. Parece até que aquele ser veio ao mundo para mostrar a todos, como somos pequenos perante o universo, perante Deus.

Numa das últimas cenas do filme, vemos pai e filho numa imensa estrada deserta, eles parecem perdidos no mundo e entre eles mesmos, naquela difícil aproximação que temos uns com os outros, mesmo com os mais próximos, pois existe o universo que habitamos e aquele que existe dentro de nós.É que estamos, só de passagem, se aperfeiçoando. Alias, é nisso que acredito. Só não sei para quê e para onde?

3 comentários:

  1. é por aí mesmo. nem dá crédito a quem praticamente te forço a ver o filme...hehe

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  2. oi beto,
    ainda não vi o filme, mas fiquei com vontade de ver. acho que isso que já vale o esforço de escrever sobre o trabalho dos outros...
    os puxões de orelha gramaticais ficam pra outra oportunidade, mas já te adianto que aquela crase da Alemanha não se justifica!
    vou passear pelo resto do blog.
    bjs

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  3. É verdade Sérgio. O mérito é todo seu.

    Valeu a visita, Toni. Agradeço os puxões de orelha.

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