25 de abril de 2006

Três Enterros – Tommy Lee Jones


Pouco tempo, pouco dinheiro (quase nenhum),computador pifado e um coração para lá de carente. Deste jeito fica difícil, mas a gente vai levando, como já falou Chico. Ainda bem que num domingo de angústia, me aparece Tommy Lee Jones com sua primeira direção no cinema e... Bingo! Saí do cinema meio que desnorteado, daquele jeito em que se alguém fala contigo, não dá nem vontade de responder.

Três Enterros é um filme raro e único, ainda guardo perguntas e cenas específicas até agora, pulsando dentro da cabeça, assisti há dois dias e cada vez ele cresce mais na minha memória. Quanto deserto!!!!

Acho que nem vale dizer sobre o que é o filme, apenas o que ele esconde (ou será que revela?) em cada um de seus personagens. Todos, sem exceção, com um verdadeiro deserto dentro de si, sendo que uns até sabem disso, outros vão descobrindo ao longo do caminho, ou melhor, ao longo do deserto onde vivem (Texas), onde pouco ou quase nada acontece ou se tem a fazer, onde o tédio impera.

Neste ambiente existe uma bela amizade entre Pete (Tommy Lee Jones) e Malquiades (Julio Cedillo), que trabalham juntos, sendo um o patrão e o outro seu empregado mexicano. Essa amizade é interrompida pelo assassinato do mexicano por Mike (Barry Pepper, excelente), guarda de fronteira que havia acabado de assumir o posto e é novo no local, este o mata sem querer. Como a polícia local não se empenha em achar o culpado, Pete resolve fazer justiça com as próprias mãos. Ele captura Mike e parte ao México, em meio ao deserto, para fazer o funeral do amigo morto em sua terra, como havia prometido ao mesmo, junto à sua família. Daí, o que vemos é a trajetória destes três corpos (sendo um morto) no deserto . E de forma maravilhosamente não linear, vemos os acontecimentos que fizeram eles chegarem a aquele deserto, suas vidas e seus relacionamentos.

Há tantas cenas instigantes, como aquela em que Mike observa chorando, a mulher se encaminhar ao shopping. O mexicano presenteando o amigo com seu cavalo, ou até mesmo as brochadas do policial durão. Mas a cena antológica, aquela que já vale o filme, se passa quase no final, quando Mike sente sinceramente que não existem diferenças entre ele (americano que se julgava superior aos mexicanos ilegais ou não) e as outras pessoas, seus valores se diluem e ele ajoelhado pede perdão ao espírito de Melquiades.

Lembro quando assisti a Raio Verde de Rohmer, lá no final do filme, aparece o raio e senti uma indescritível sensação de beleza.Muitos não conseguiram enxergar o raio verde que aparece por menos de um segundo. Falo dele, pois algo aconteceu parecido neste filme, quando Pete diz a Mike que este está livre, por um segundo também, Tommy Lee Jones empresta ao seu personagem toda uma gama de angústia e vazio. Apenas numa rápida troca de olhar, um mágico segundo, que revela toda a tristeza na alma daquele homem durão que perdeu o companheiro e amigo (coisa rara que não se encontra facilmente). O durão em meio ao seu deserto interno, no deserto externo.Ele se mostra nu , só e digno. Que belo personagem, que belo filme.

3 comentários:

  1. Puxa... Depois desse belo texto, minhas expectativas para o filme só aumentaram.

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  2. Valeu,Ailton.É cedo para falar, estamos em abril, mas é a grande surpresa do ano para mim.Talvez, seja pelo dia em que assisti, estava sensibilizado por demais.Mas a beleza de se assistir filmes não é essa sintonia do seu interior com a telona naquele determinado dia e hora?
    Não perca.

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