8 de maio de 2006

Casa de Areia – Andrucha Waddington


O homem já chegou na lua, mãe. E o que tem lá? Só areia.

É porque a vida é assim mesmo. Perde-se a noção do tempo. E nossas almas vão se cobrindo de deserto, da areia que habita em nós. Mãe e filha no meio do nada, vivendo na manobra do vento. Vento que cobre a gente, acoberta sonhos e quando vemos, o tempo (que não existe) já se passou levando tudo.

Pelo menos aqui homem não manda em mim, diz a mãe. Até a casa ser tomada pela a areia que anda.Não há diferença aqui, mas a vida é sonho, a vida é o que a gente vive e faz. Homens estudam as estrelas no deserto, vêem o eclipse da lua no deserto. Pra quê? Pra descobrir que a vida é assim mesmo.Um amontoado de sonhos cobertos pela areia da desilusão, tanto faz, a cidade, o deserto. O que vale é o amor que sentimos. Será que realmente sentimos algo nesta imensidão de nada e vento? Mas é tudo tão bonito, esse mundão a perder de vista.

Não assisti no cinema, só agora que saiu em DVD. Perdi também o bonde, e a história se esvaindo como areia entre meus dedos. Já tenho quase 35 anos. No deserto, só. A areia me tomando o corpo todo em plena Av. Paulista. As vezes parece que estou lá junto com as duas Fernandas.

Valeu só assistir agora, pelo menos vi nos extras a melhor cena, que é Fernanda Montenegro com os olhos molhados e voz emocionada, agradecendo ao genro e diretor Andruccha, pela incrível experiência nas dunas. Humilde e digna como uma grande atriz deve ser, e ela ,todos sabemos, mostra neste pequeno gesto o quanto o é.

A mãe sossega, não quer mais sair de lá. A filha demora, a sonhar... A música é o que eu sinto mais falta, Maria. O que é música, mãe? Não dá para explicar. Só se acalma quanto se entrega ao negro lindo Seu Jorge, dois sozinhos formam um. Também sossega. Pois mesmo na cidade é difícil encontrar alguém assim, água no deserto. Cena linda aquela do entrelaçamento dos dois corpos, café com leite e sexo. O amor silencioso e lindo do negro acalma o coração da mãe de Maria. A filha é infeliz, mas um dia consegue sair de lá. Vai pro mundo se perder. Um dia volta. O homem já chegou na lua, mãe. E o que encontrou lá? Só deserto e areia.




5 comentários:

  1. Eu achei "Casa de Areia" um belo filme. Nada demais, só um belo filme. A Fernanda Torres etá ótima.

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  2. Acho o filme bem bom, não entendo a birra de muita gente. Não vejo qual o problema de ele ser acadêmico.

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  3. Tb gosto do filme, mas não adoro, tem alguns belos momentos... gostei do texto, interagindo entre escritor e filme!

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  4. Adorei o filme. Poético sem ser chato. Uma história simples, balenceada com um cenário fabuloso.A Fernanda (filha) mais uma vez arrasa, como em Terra Estrangeira e O Primeiro Dia.

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