13 de junho de 2006

Caché – Michael Haneke


Estranho o cinema de Haneke. Não gostei dos outros filmes que assisti dele, sendo estes: Violência Gratuita e A Professora de Piano. Mas mesmo assim, admirei nos mesmos, uma espécie de singularidade, um cinema autoral do diretor.

Já neste Caché, ele se saiu bem melhor, mantendo suas características com um resultado bem superior, seu cinema continua a incomodar.

Neste, vemos a história de uma família francesa- considerada modelo- ter seu cotidiano tranqüilo, modificado por imagens aparentemente inofensivas do seu cotidiano, gravadas e entregues anonimamente a eles. Daí acabou-se o sossego e a estrutura da família começa a ruir. Estes são representados por Daniel Auteuil e Juliette Binoche e seu filho adolescente, que na verdade passa, a representar uma França atormentada pelo seu passado, por suas ex-colonias, que aqui no caso, é a Argélia. Haneke usa essa família para fazer uma obra altamente política e inquietante. A sujeira que estava escondida em baixo de seus tapetes caros, quer se mostrar. Haneke não demonstra nem um pouco de comiseração aos seus patrícios. Expõe incisivamente o que os franceses querem esquecer num passado não tão distante, isto é, sua prepotente maneira de lidar, com os seres “inferiores” de suas ex-colonias.

Estes vídeos e desenhos revelados e enviados a família, acredito (e gosto de acreditar) que são na verdade uma espécie de interação, intervenção do diretor diretamente na história da família (ou seria o país?). E isso é o mais interessante deste filme. Que segue num crescente de angústia e suspense sobre as imagens com as quais a família não consegue descobrir de como ou de onde vem, e assim se instala o terrorismo interior. O personagem de Daniel Auteuil sabe de sua parcela de culpa em tudo que acontece, mas sufoca-a com suas pílulas para dormir.

Várias peças ficam sem se encaixar, que talvez numa revisão se encaixem. De qualquer forma é um filme único e inquietante, que nos leva a pensar.E isso já é muito, em meio ao cinema atual.

Um comentário:

  1. Tinha visto na Mostra e revi no domingo, Caché é maravilhoso, tratando não só da xenofobia e dessa maneira como a França trata suas ex-colônias, como tb abordando a intolerância, a falsa familia perfeita e etc, etc, etc!!

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