6 de junho de 2006

A Concepção – José Eduardo Belmonte


Eis mais um filme que assisto este ano, em que tem Brasília como um dos personagens do enredo, e não apenas seu pano de fundo. Assim como em Brasília 18%, saí meio que decepcionado com o filme. Vale lembrar que sempre quando vou assistir a um filme nacional, vou pronto para gostar, mesmo com vários defeitos. Neste caso fui assisti-lo sabendo que muitos gostaram.

A premissa do filme é muito interessante. Vemos a história de jovens entediados, filhos de funcionários graduados do alto escalão da supermáquina governamental em Brasília, que liderados por X (Matheus Nachtergaele, sempre ele), resolvem fundar uma sociedade concepcionista, na qual todos devem queimar suas identidades e vínculos sociais, viver cada dia como se fosse único, e de modo diferente.

Assim vemos aqueles jovens à procura dessa nova concepção de vida, como o personagem X, que segue à risca, a nova lei imposta por eles mesmos.
Para pessoas como eu, o duro da vida é que temos que escolher um só caminho, e depois se lamentar por não ter ido pelos outros vários caminhos deixados para trás. Mas o que me parece que acontece com X é exatamente ao contrário. Depois de “viver” vários personagens, aonde isso acaba? Onde é o porto, depois de tantos (des) caminhos? Não tem jeito, depois do salto, a queda. E talvez algo pior ainda, o vazio (algo que eles mais queriam fugir). E nesta anarquia mal elaborada, muito facilmente as coisas terminam mal, o que fatalmente acontece ao grupo.

Acho que o que fez com que eu saísse do cinema com a impressão de não ter gostado do filme, foi a maneira extremamente impessoal como estes jovens foram colocados na tela. O diretor não se aprofunda em nenhum dos personagens. Quando o filme terminou fiquei com a estranha sensação de não ter conseguido entender ou conhecer mesmo que banalmente, nenhum dos personagens apresentados. Suas aspirações, falsidades ou sinceridades perante aquilo tudo que estavam vivenciando.

Talvez a idéia seja essa mesma, frieza e distanciamento.Ou talvez porque estes jovens fossem simplesmente ocos, e atrás de tantos “personagens”, não havia nada, apenas o vazio.

Como a outra personagem do filme, Brasília. A cidade inventada (que não conheço, nem faço questão) que não tem esquinas. E eu adoro esquinas, principalmente as que tem arvores e botequins. Pretendo rever o filme, melhorar minha impressão talvez.Mas vai ser difícil.

2 comentários:

  1. não entendi. vc queria que o diretor fosse anti-concepcionista com seus personagens?

    ResponderExcluir
  2. Talves seja isso mesmo.Porque eles se envolvem naquilo? quais suas aspirações ou frustações?
    Mostrar, mesmo que um minimo disso.
    E não é só isso,acho a movimentação de camera muito "moderna", como naquela cena do menage a trois.Isso me cansa um pouco. Acho que esse filme até que bom, mas não faz meu estilo.É como o Transpoting do Danny Boylle (acho que é assim que se escreve, um filme que é muito bom, mas eu odeio. A forma, a estética, como são colocadas aas coisas.
    Talvez, como eu já falei no blog, seja está mesmo: incomodar. Então parabéns

    ResponderExcluir