17 de junho de 2006

Buenos Aires 100 Kilometros - Pablo José Meza

Se no futebol me dou o direito de ser totalmente contra a Argentina ( e o Corinthians, é claro), não tenho esse problema com relação ao cinema argentino, seria idiotice minha, é obvio. Sendo que eles estão nos dando uma lavada nesse quesito, e não fico bravo com isso não, eu quero é mais, tenho curtido muito o cinema argentino. Como exemplo, temos este singelo filme sobre a infância de um grupo de meninos amigos, moradores de uma espécie de periferia de Buenos Aires.
Assistindo ao filme, não deixei um segundo de rever a minha própria adolescencia, em situações idênticas, ou muito parecidas. Como no filme, tinha minha turma de amigos insepáraveis, que estavam comigo o tempo todo, para tudo o que desse e viesse. Todos nós com nossos problemas, fossem eles familiares, de afirmação, crescimento, sexual, etc. Mas acima de tudo, tínhamos a nós mesmos, e lembro o quanto isso era bom. Um elo de ligação muito forte que jamais consegui com outros e tantos amigos. Era mágico, mas também, é claro, os tempos eram outros, era a descoberta, aos trancos e barrancos, do mundo e de nossa propria vida.
Como não lembrar daquele bailinho na casa do Anderson, exatamente como no filme, dado apenas com o pretexto de que algumas "colegas" de escola, às quais eramos apaixonados, comparecessem. Lembro dela ter vindo com um vestidinho marrom, muito bonita e cheirosa. Quando finalmente venci o monstro imenso da timidez, dançamos "Adivinha o quê" de um tal de Lulu Santos, novidade da época. Lembro de apertá-la com delicadeza contra o peito e olhar demoradamente para a sua nuca (sempre adorei nuca) , e sentir seu perfume, me sentinto um gigante, com uma sensação inesquecível, não querendo que aquele momento terminasse nunca. Outras vezes, já bem mais velho, tentei repetir aquela dança com outras, mas nada jamais foi tão intenso e principalmente puro. O primeiro beijo, que aconteceu só depois no pátio da escola! Com os inseparáveis amigos a dar força e ao mesmo tempo gracejarem. O despertar(apenas despertar) sexual com a filha de uma amiga de minha mãe, muita mais velha que eu na época, que depois de muito tomar sol na praia, me pediu para que passasse óleo no seu corpo todo. A primeira vez que passei minhas mãos nos seios de uma mulher! Não bastasse, me achando bonitinho, me "ensinou" a beijar na boca. Dia inesquecível de minha húmilde vida.
Assim como no filme, tínhamos momentos de confissões, segredos super secretos de morte e para sempre, assim como os pactos de sangue, de não nos separarmos jamais. Vejo muitos comentarem a respeito dos programas de televisão assistidos na infância, não tenho lembranças disso, simplesmente porque não os assistia, vivia junto aos amigos a jogar futebol e descobrir coisas novas pelas ruas, às vezes até tarde da noite. Tínhamos a Framenguinho (eu era lateral direito como o Leandro), time que montamos, e jogávamos todo domingo no campo de varzea na ponte da Cidade Jardim, que agora, pra variar, aquele maravilhoso espaço, esta virando o luxuoso Shopping Center Cidade Jardim, eca! Tínhamos os maravilhosos campeonatos de futebol de Botão.
Enquanto o filme estava sendo projetado na tela, outro filme, o da minha vida, de tempos já tão distantes, passava na tela da minha cabeça. Acho que muitos que assistirem a esse filme vão ter essa mesma sensação. As vezes amarga, as vezes doce sensação, de um tempo de descobertas e amizades sinceras. Não tínhamos ainda o viço e o amargor do desencanto que o passar dos anos trás a todos. Não olho o passado com nostálgia ou saudade. Apenas como uma etapa da vida, bela etapa da vida. Hoje não tenho mais contato com os amigos inseparáveis, a vida encaregou, como no filme, de nos separar, mas guardo com carinho todos, na minha memória afetiva. Mas o que mais tenho certeza dessa época é de que não éramos sozinhos, eu não era sozinho e tinha muita esperança em todos e em tudo. Bons tempos.

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