29 de julho de 2006

Consumido Pelo Ódio – Yoichi Sai


Na minha eterna luta para conciliar tempo para assistir tudo que me interessa, acabei assistindo a este filme em seu último dia de exibição nos cinemas de São Paulo, na última quinta-feira. Ainda bem que deu tempo, pois este épico japones-coreano tem a melhor performance de ator que vi este ano, na figura de Takeshi Kitano, interpretando o patriarca Shunpei.

Vemos, logo no inicio, ele chegando moço em Osaka, de navio, vindo de sua terra natal, pronto para conquistar uma nova vida cheia de riquezas, que a nova terra prometia. Este é o único momento em que vemos o rosto dele leve, porque a partir de então, vemos em Kitano a própria personificação do ódio e brutalidade já mostrada no cinema. Em um certo momento, ele tem semelhanças com Era Uma Vez Na América, mas é pouca, pois Shunpei, não demonstra em momento nenhum, qualquer resquício de ternura ou afeto, por quem quer que seja, e acaba sendo algoz, de seus mais próximos, sua própria família. O máximo de ternura que demonstra é quando dá um banho em sua amante, depois dela ter um derrame cerebral, mas na cena seguinte, vemos que não é bem assim.

O filme conta a saga deste homem-monstro, pela ótica de seu filho, que o faz já de inicio com grande rancor, e com o passar do filme vamos acompanhando o porque de tanta mágoa . Depois da cena de Shunpei no navio, no inicio do filme, ele só aparece de novo, já batendo e violentando a própria esposa. Coisa corriqueira, que também acontece com os filhos, irmão, ou qualquer um, que lhe responde ou se mostra contra as suas ordens. E assim ele forma seu mini-feudo, em um subúrbio, entre coreanos como ele, onde explora sua família e empregados, na base da porrada e ditadura, numa pequena fábrica de alimentos a base de peixes, que o faz enriquecer e usar o dinheiro ganho, para agiotagem e ter outras pessoas em suas mãos. Sua rispidez e brutalidade não têm limites, e seu vigor para a violência, que isso tudo produz, também não, ele nunca se intimida.

Talvez o filme perca um pouco seu vigor por não trabalhar direito seus coadjuvantes e seus fragmentos, mas já vale, pelo trabalho de Kitano. Apesar de seu personagem ser odioso e brutal, nunca parece vulgar, pois Kitano o mostra de forma muito eficiente, e incrivelmente humano. Se não fosse pela genialidade do diretor de Dolls, esse filme talvez até passasse desapercebido. Ele leva o filme nas costas.

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