14 de julho de 2006

O Libertino – Laurence Dunmore


Caro Conde de Rochester,

Peço um mínimo de sua atenção para lhe falar sobre o filme que está passando nos cinemas, baseado na sua vida,do diretor estreante L. Dunmore. Ontem, tive o prazer de assistir, e assim, me vi no direito de comentar sobre o mesmo, e sobre algumas cenas, desta sua breve, mas pulsante vida.

O filme em si, não foi muito bem recebido pela crítica e público. Mesmo tendo Johnny Depp, praticamente lhe encarnando com maestria, acho que o senhor deve ter gostado e muito da atuação dele.Mas cá pra nós, o filme tem realmente muitos problemas, principalmente na metade para o final, muitas coisas não ficam bem desenvolvidas, e sinceramente fiquei sem entender sua atitude tão covarde, quando seu amigo e companheiro de boemia foi assassinado, ou mesmo suas razões para favorecer o Rei Charles II (John Malkovich) no parlamento. Alias, nesta cena especificamente, a fotografia estava bem esquisita não acha?

Mas o que mais me chamou a atenção, e é a isto que eu quero me ater, foi seu relacionamento amoroso e artístico com a atriz e prostituta Elizabeth (Samantha Morton). Sempre que aparece os dois na tela, o filme cresce muito. Adorei em especial, e pra mim já vale o filme, o momento em que o senhor vai oferecer seus préstimos à atriz, para ajudá-la a melhorar como atriz e conseguir o respeito do público.Tocou-me muito aquele dialogo dos dois- e digo com certeza que o texto, por vezes tenso e difícil, é o melhor do filme – em que o senhor declara que o teatro é sua válvula de escape, onde o senhor conseguia encontrar um pouco de si mesmo, seu porto, seu conforto, no meio do tédio e de um vazio existencial imenso, mesmo estando o tempo todo em meio a bebedeiras e orgias sexuais de dar inveja ao Marques de Sade. Alias, não querendo ser carola, ou chato, (até porque às vezes exagero na bebida, pena que não no sexo), quem geralmente comete excessos, tem um vazio dentro de si, talvez maior.Mas naquele momento, me vi – claro que em menor grau- tendo a mesma espécie de sentimento, só que com relação ao cinema. Só que de uma maneira mais solitária.

Gostei também das duas vezes que o senhor fala diretamente à câmera, pedindo para não gostarmos do senhor. Funcionou, lhe garanto. Ou melhor, me é indiferente. Afinal de contas, para que tantos excessos? Para se descobrir inútil, vazio e só. Para isso não é preciso tantos excessos, eu lhe garanto, pois conheço bem isso.

A propósito, seria o senhor, ou um parente muito próximo, o famoso escritor de livros espíritas? Depois que o senhor passou para o outro lado, mudou muito, hein.

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